A ideia segundo a qual o livro é um bem “diferente dos outros”, que escapa em par-te às leis gerais da economia a despeito de sua inserção em um setor editorial cada vez mais competitivo e financeiramente con-centrado, constitui uma “matriz cognitiva e normativa” (SOREL, 1997) particularmente forte na França. Se essa ideia está frequen-temente ligada a uma “exceção francesa” no âmbito da cultura, ela representa um mo-delo atrativo em escala internacional, que oferece uma alternativa à visão da publi-cação globalizada e racionalizada associada ao mundo anglo-saxão (THOMPSON, 2010).Com efeito, longe de se limitar à França, essa concepção exerce uma influência em numerosos países, em diversos níveis, no-tadamente no polo de produção restrita que incorpora um modo específico de produção e de avaliação dos bens simbólicos. A li-vraria independente é uma das manifesta-ções desse modelo no âmbito da comercia-lização, apresentando-se como um modo mais humano e mais autêntico de acesso 387aos livros relativamente aos atores globa-lizados da venda online (principalmente a Amazon), às cadeias e outras grandes redes de distribuição. Isso é o que permite cons-tatar uma pesquisa realizada junto aos res-ponsáveis de livrarias físicas recém-criadas na Grã-Bretanha e na França. Tendo já sido condenadas ao desaparecimento, as livra-rias independentes se mostram resilientes em ambos os cenários nacionais graças aos livreiros movidos por uma certa concepção da cultura, mas também em razão das ex-pectativas de frações específicas do público.